Entre novembro e dezembro de 2024, a Polícia Federal (PF) indiciou 40 pessoas no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os ex-ministros Walter Braga Netto e Augusto Heleno.
No entanto, segundo o diretor-geral da corporação, Andrei Passos Rodrigues, não foram encontradas provas suficientes para indiciar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira (29), Rodrigues afirmou que, embora os nomes de Eduardo e Michelle tenham sido mencionados na delação premiada do ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid, a investigação não obteve elementos adicionais que comprovassem envolvimento direto de ambos. “A investigação apontou elementos relacionados a outras pessoas, mas, no caso concreto, não encontramos provas que confirmassem participação dessas duas pessoas”, declarou.
Delação premiada e grupos próximos a Bolsonaro
A delação de Mauro Cid, homologada em setembro de 2023, descreveu a existência de três grupos distintos ao redor de Jair Bolsonaro após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo Cid, um núcleo de “conservadores” defendia que o ex-presidente assumisse o papel de líder da oposição; os “moderados” rejeitavam ações extremas; e o grupo dos “radicais” estava dividido entre os que questionavam a integridade das urnas e os que defendiam medidas mais drásticas, como um golpe de Estado.
O ex-ajudante de ordens apontou Eduardo e Michelle como integrantes do núcleo mais radical e alegou que ambos incentivavam Bolsonaro “constantemente” a romper com o resultado eleitoral. Em resposta, Eduardo criticou o processo conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), argumentando que não há garantias de ampla defesa. A defesa de Jair Bolsonaro também contestou a condução das investigações e afirmou não ter tido acesso integral à delação. Michelle Bolsonaro, por sua vez, ironizou as acusações e as classificou como infundadas.
Investigação e possíveis medidas cautelares
Durante a entrevista, Andrei Passos Rodrigues destacou a solidez do relatório da PF e reforçou que o ex-presidente pode estar sujeito a medidas cautelares. “Como qualquer investigado, ele poderá ser alvo de medidas determinadas pela Justiça, e a PF cumprirá essas decisões”, afirmou.
Além da investigação sobre a tentativa de golpe, Jair Bolsonaro foi indiciado em outros dois inquéritos conduzidos pela PF: um sobre o suposto esquema de fraude no registro de vacinas contra a Covid-19 e outro relacionado à venda de joias sauditas, caso revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Ambos os processos aguardam manifestação da Procuradoria-Geral da República.
Rodrigues também abordou a necessidade de regulamentação das redes sociais, defendendo que crimes no ambiente virtual sejam tratados da mesma forma que no mundo físico, alinhando-se à posição do governo Lula.
Michelle Bolsonaro se pronuncia: ‘cortina de fumaça’
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro negou as acusações feitas na delação de Mauro Cid e classificou as menções a seu nome como uma “cortina de fumaça”. Em nota divulgada pelo PL Mulher, afirmou que “nunca conseguiram comprovar absolutamente nada” contra ela.
“Essa ‘revelação’ já havia sido feita em 2023, mas nunca conseguiram comprovar absolutamente nada contra a presidente do PL Mulher – Michelle Bolsonaro – por uma razão simples: não há nada a ser comprovado. Trata-se de mais uma cortina de fumaça”, declarou o comunicado.
O texto ainda sugere que o vazamento da delação foi motivado por questões políticas, mencionando a queda na popularidade do governo Lula, a tentativa de minimizar a repercussão da participação de Michelle e Eduardo Bolsonaro na posse do ex-presidente dos EUA Donald Trump e as recentes declarações de Bolsonaro sobre a possibilidade de indicar um sucessor caso sua inelegibilidade seja mantida.