Ben-Gvir ameaçou renunciar na quinta-feira, mas declarou que não dissolveria a coligação. Ele afirmou ainda que consideraria retornar ao governo caso o conflito fosse retomado após a primeira etapa da trégua.
O governo israelense liderado por Benjamin Netanyahu sofreu um abalo significativo neste fim de semana com a renúncia do ministro da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, e de outros dois membros do partido religioso Poder Judaico. A decisão, anunciada no sábado e confirmada no domingo, veio em reação ao acordo de cessar-fogo estabelecido com o Hamas na Faixa de Gaza. Os ministros Yitzhak Wasserlauf, responsável pela pasta do Negev, Galileia e Resiliência Nacional, e Amichai Eliyahu, do Ministério do Patrimônio, também apresentaram suas demissões.
A saída dos três ministros representa o rompimento oficial do Poder Judaico com a coalizão governista, mas não implica o colapso imediato do governo de Netanyahu, que ainda mantém maioria no Knesset, o parlamento israelense. Apesar disso, a renúncia de Ben-Gvir enfraquece politicamente o primeiro-ministro e evidencia divisões internas em sua base de apoio.
Ameaças, princípios e pressões internas
Na quinta-feira, Ben-Gvir já havia ameaçado deixar o cargo, mas garantiu que não derrubaria a coligação. Em entrevista coletiva em Jerusalém, declarou que sua decisão está ancorada em “princípios” e que poderia reconsiderar sua posição caso o conflito fosse retomado após a primeira fase da trégua.
— Se a guerra contra o Hamas for retomada, com intensidade, para alcançar os objetivos ainda não atingidos, voltaremos ao governo — afirmou.
Ele também criticou o acordo mediado por Catar, Egito e Estados Unidos, classificando-o como “imprudente” e contrário à segurança de Israel. O plano prevê a libertação inicial de 33 reféns israelenses, vivos ou mortos, em troca de centenas de prisioneiros palestinos detidos em Israel. Entre os reféns, estão Hisham al-Sayed e Avera Mengistu, capturados há cerca de uma década, além de outros sequestrados durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.
Ben-Gvir sugeriu medidas alternativas, como a interrupção total de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, para pressionar o Hamas a libertar os reféns.
Reações da coalizão e tensões políticas
A decisão do Poder Judaico em deixar a coalizão gerou respostas contundentes. O partido Likud, de Netanyahu, alertou que “quem desmonta um governo de direita estará para sempre em desgraça”. O comunicado também destacou que o cessar-fogo foi pensado para maximizar a libertação de reféns vivos e reforçar a segurança de Israel a longo prazo.
Internamente, Ben-Gvir pediu que outros líderes de extrema direita, como o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, também renunciassem. Smotrich, que já havia classificado o cessar-fogo como “perigoso”, reafirmou seu posicionamento, mas optou por permanecer no governo.
Ainda assim, a pressão sobre Netanyahu é crescente, especialmente diante da fragilidade política decorrente da saída de um partido que contribuía com seis deputados para a coalizão de 68 membros no parlamento.
Contexto e impacto do cessar-fogo
O cessar-fogo, que começou a ser implementado no sábado, inclui uma troca sensível de prisioneiros e reféns. No entanto, críticos como Ben-Gvir argumentam que o acordo cria precedentes perigosos para novos sequestros e enfraquece as estratégias de segurança de Israel.
Enquanto o governo tenta manter sua estabilidade e justificar as condições do cessar-fogo, as fissuras internas expõem desafios profundos para Netanyahu, cuja coalizão, embora preservada, enfrenta sérios testes de unidade.
