Em 2024, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que avalia a variação do custo de vida das famílias com renda de até 40 salários mínimos, registrou 4,83%.
A meta estipulada pelo governo para o ano era de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, ou seja, um intervalo entre 3% e 4,5%.
Desde a adoção do regime de metas de inflação, em 1999, o Brasil ultrapassou o limite superior da meta em oito ocasiões. A mais recente delas ocorreu no ano passado, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (10).
O Conselho Monetário Nacional (CMN), composto pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do Banco Central (BC), é o responsável por definir a meta de inflação. Já a implementação dessa meta fica a cargo do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que utiliza a taxa básica de juros, a Selic, como um dos principais instrumentos de controle da inflação.
A Selic, atualmente fixada em 12,25% ao ano, influencia diretamente o custo do crédito e a atividade econômica, podendo desacelerar a inflação ao tornar os empréstimos mais caros e desestimular o consumo. Entretanto, a política de juros altos também pode impactar negativamente o crescimento econômico e a geração de empregos.
Em relação aos fatores que contribuíram para o desvio da meta de inflação em 2024, o BC aponta eventos climáticos adversos, a desvalorização do real frente ao dólar e o aumento no preço das carnes como elementos chave para o aumento da pressão inflacionária.
O regime de metas de inflação, segundo o Banco Central, visa garantir a estabilidade de preços no país, proporcionando maior previsibilidade e segurança para a economia. A instituição destaca que esse sistema ajuda no planejamento de famílias, empresas e do próprio governo. No entanto, uma inflação excessivamente baixa ou uma deflação prolongada também pode prejudicar a economia, ao reduzir o consumo e dificultar o crescimento.
Sempre que a meta de inflação é descumprida, o presidente do Banco Central é obrigado a enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, explicando as razões do estouro e as ações que serão tomadas para restaurar o controle sobre os preços. O BC já divulgou essa carta nesta sexta-feira (10), destacando a alta do dólar e das commodities como principais fatores para o aumento da inflação em 2024.
Além de 2024, o Brasil enfrentou inflação acima da meta nos anos de 2001, 2002, 2003, 2015, 2017, 2021 e 2022. Entre os anos de estouro, 2017 foi o único em que a inflação ficou abaixo do piso da meta, com o IPCA registrando 2,95%, enquanto o piso estipulado era de 3%.
Em 2002, ano marcado por uma crise política e econômica, a inflação disparou para 12,53%, o maior índice desde a implantação do regime de metas. Já em 2021, com os impactos da pandemia de Covid-19, o IPCA alcançou 10,06%.
A partir de 2025, a meta de inflação será calculada ao longo de um período de 12 meses, seguindo o modelo de “meta contínua”, adotado por outros países. Isso significa que, para apurar o cumprimento da meta, será levado em conta o intervalo de 12 meses que termina em abril de 2025, por exemplo. Caso a inflação ultrapasse a meta por seis meses consecutivos, o presidente do Banco Central deverá explicar as causas e as medidas adotadas para controlar a inflação.
Em 2024, o IPCA apresentou uma variação significativa ao longo do ano. Em abril, o acumulado de 12 meses estava em 3,69%, mas a inflação seguiu em alta, atingindo 4,87% em novembro. A desaceleração no final do ano, com uma taxa de 0,52% em dezembro, ajudou a reduzir o índice para 4,83%.
Com a nova metodologia, se os dados fossem avaliados em períodos mensais, o BC já enfrentaria uma situação de descumprimento da meta, mas ainda não precisaria emitir uma carta aberta, pois a análise agora é realizada ao longo do ano e não apenas em dezembro.
Da Redação/Click News