Transtornos mentais podem desencadear alterações biológicas que afetam vasos sanguíneos, pressão arterial e frequência cardíaca.
De acordo com o Relatório Mundial de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2022, aproximadamente 12,5% da população mundial convive com algum transtorno mental. Entre eles, a ansiedade e a depressão lideram as estatísticas, correspondendo a 60% dos casos. No Brasil, cerca de 9,3% da população sofre com ansiedade, enquanto 5,8% enfrentam a depressão. Esses transtornos, além de comprometerem a saúde mental, podem impactar diretamente o coração.
A cardiologista Patrícia Oliveira, do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, dirigido pelo médico Roberto Kalil Filho, explica que o impacto não se limita ao comportamento. “Os transtornos mentais promovem alterações biológicas significativas, alterando as vias de sinalização entre o sistema nervoso central e os órgãos. Além disso, elevam os níveis de citocinas inflamatórias, agravando condições como aterosclerose e isquemia miocárdica”, destaca.
A especialista acrescenta que a ansiedade e a depressão ativam excessivamente o sistema nervoso simpático, responsável por preparar o corpo para situações de estresse. Essa hiperativação, aliada ao aumento da liberação de cortisol, pode resultar em vasoconstrição, elevação da pressão arterial e aceleração da frequência cardíaca.
A síndrome do coração partido
Um exemplo clássico da relação entre saúde mental e cardíaca é a síndrome do coração partido, também conhecida como cardiomiopatia de Takotsubo. Essa condição, desencadeada por estresse intenso, imita os sintomas de um infarto agudo do miocárdio, porém sem a presença de lesões ateroscleróticas obstrutivas. Nesse quadro, o estresse e a depressão ativam o sistema neuro-hormonal, liberando substâncias que provocam a redução do fluxo sanguíneo no músculo cardíaco e possíveis danos celulares.
Prevenção e tratamento: a importância de uma abordagem multidisciplinar
Para prevenir os impactos negativos da ansiedade e da depressão na saúde do coração, é fundamental adotar uma abordagem multidisciplinar. “O acompanhamento por cardiologistas, psicólogos e psiquiatras é indispensável, especialmente para pacientes que já sofreram eventos cardíacos”, orienta Patrícia Oliveira.
Entre as estratégias recomendadas estão:
- – Terapias psicológicas e psiquiátricas: essenciais para tratar os transtornos mentais e reduzir riscos – cardiovasculares.
- – Atividade física regular: promove bem-estar emocional e fortalece a saúde do coração.
- – Uso de medicação: quando necessário, contribui para o controle dos sintomas emocionais e previne complicações cardíacas.
Além disso, a implementação de protocolos clínicos permite o rastreamento precoce de problemas emocionais em pacientes com doenças cardíacas, melhorando tanto a qualidade de vida quanto a sobrevida. “Cuidar da saúde mental é tão crucial quanto controlar fatores tradicionais, como colesterol e pressão arterial. Ao promover o equilíbrio emocional, protegemos também o coração”, conclui a especialista.
Da Redação/Clicknews