Matéria publicada nesta sexta-feira (4) pelo jornal norte-americano The Washington Post conta em tom irônico que embora a longeva carreira política de Michel Temer pudesse estar por um fio até a votação de quarta a noite, ele passou a tarde muito calmo e confiante, treinando seu discurso de vitória.
No final do dia, a decisão foi clara. Por 263 a 227 votos, os legisladores do Brasil optaram por arquivar as acusações. Os resultados foram um testemunho da habilidade política de Temer, mas também revela os motivos pelos quais ele permanece no poder.
WP lembra que ha dois meses atrás os analistas declararam como morto o governo de Temer após o vazamento das gravações que pareciam mostrar o presidente aprovando o pagamento pelo silêncio de Eduardo Cunha. Em seguida, uma fita de vídeo surgiu de um assessor próximo recebendo uma mala cheia de dinheiro – parte de um suborno de US $ 12 milhões do executivo supostamente destinado a Temer.
WP lembra que ha dois meses atrás os analistas declararam como morto o governo de Temer
De maio até a votação, houveram protestos, pedidos de renúncia, abandono de importantes membros da base aliado, mas Temer se manteve firme. O presidente se utilizou de US $ 1 bilhão de fundos federais para projetos do Congresso, de acordo com a Open Records, um grupo sem fins lucrativos. Ele ofereceu posições cobiçadas em seu governo, liberou emendas e conseguiu o número necessário de votos. Agora, ele estava pronto para comemorar, acrescenta.
Temer teria sido o segundo presidente brasileiro a ser suspenso em 15 meses, destaca o Post. Ele assumiu o cargo depois que sua antecessora, Dilma Rousseff, foi acusada de manobras extremamente técnicas que a maioria dos brasileiros lutou para entender. Mas na época, com a economia em farrapos, multidões de brasileiros pediram sua renúncia.
Enquanto mais de 80 por cento dos brasileiros queriam que Temer fosse julgado, de acordo com as pesquisas, três anos de recessão econômica agravada por uma gigantesca crise política falaram mais alto, observa WP.
À medida que os políticos votaram em apoio ao presidente, a fala mais comum era a preocupação com a economia, complementa.
“Neste momento, não é razoável suspender o presidente Temer por seis meses, para colocar o país em mais instabilidade política e incerteza econômica”, disse o deputado Luiz Felipe Baleia Rossi, membro do Partido do Movimento Democrático de Temer, quando votou em apoio ao presidente.
Mas a luta para se manter pode ter divido a base política necessária para Temer governar. As medidas impopulares requerem uma maioria de dois terços no congresso, um nível de apoio que ele ainda não conseguiu, afirma Post.
Ele provavelmente também enfrentará a justiça nas acusações por tentativa de obstrução da justiça na investigação Lava Jato nos próximos meses, situações que exigirão níveis similares de manobra política para preservar seu mandato.
No entanto, após a votação, Temer disse que lutaria para modernizar o Brasil até o último dia de sua administração.
“Estamos tirando o Brasil da crise econômica mais grave da nossa história”, disse ele.
“Não vou descansar até 31 de dezembro de 2018.”
> The Washington Post/Jornal do Brasil