Superlotado, abrigo para venezuelanos na fronteira de Roraima já não recebe mais imigrantes
Ao todo, 248 índios venezuelanos estão vivendo no abrigo que só oferece 200 vagas. Local fica na cidade de Pacaraima, principal porta de entrada de venezuelanos em Roraima.
Aberto há menos de um mês, o abrigo para imigrantes em Pacaraima, cidade brasileira na fronteira com a Venezuela, já está superlotado e não recebe mais estrangeiros.
Ao todo, 248 índios venezuelanos estão vivendo no local, segundo números repassados ao G1 nesta segunda-feira (27) pela Fraternidade. O local, inaugurado oficialmente no dia 7 de novembro, foi adaptado para receber apenas 200 pessoas.
O abrigo é destinado apenas para índios venezuelanos e é mantido em parceria entre a prefeitura de Pacaraima, Fraternidade e Agência da ONU para Refugiados (Acnur).
O prazo de permanência para os venezuelanos no local é de um mês, mas o período é flexível dependendo de cada caso. Assim, o número de imigrantes é flutuante, e o lugar pode voltar a receber novos moradores futuramente.
Desde 2016, Roraima enfrenta desafio de receber um grande fluxo de venezuelanos que entram no Brasil pela fronteira do estado. Eles fogem da fome, do desemprego e da falta de serviços de saúde no país governado por Nicolás Maduro.
No abrigo em Pacaraima, os imigrantes se dividem em duas áreas. As famílias foram instaladas em um galpão onde há um grande redário. Na parte externa, barracas da Defesa Civil são usadas como ‘casas’ por imigrantes solteiros.
“Por enquanto estamos um pouco acima da capacidade, mas está tudo organizado, porque esse abrigo foi planejado, este demorou cinco meses para ficar pronto para receber os imigrantes”, explicou o irmão Irma, responsável pela Fraternidade em Pacaraima.
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Atualmente, os imigrantes que vivem no abrigo recebem alimentos doados pelo Acnur e pela paróquia da Diocese de Roraima em Pacaraima. O local ainda passa por reforma para receber uma cozinha coletiva.
Antes da inauguração do abrigo, muitos indígenas venezuelanos viviam nas ruas da cidade. Até o Ministério Público Federal (MPF) recomendou a criação de uma moradia coletiva para os indígenas que estavam expostos a diversas situações de vulnerabilidade.
O índio da etnia Warao, Narciso Sapata, de 35 anos, viveu por meses nas ruas de Pacaraima. Hoje ele é líder dos indígenas no abrigo onde vive com a mulher e os três filhos pequenos.
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“Vim para Pacaraima em setembro do ano passado e dormia nas ruas até a abertura do abrigo. Na Venezuela não tem trabalho, comida e nem medicamento”, conta Sapata que vivia na comunidade Tucupita, no estado venezuelano de Delta Amacuro.
Índios devem ser remanejados para Manaus
Segundo a assessoria da Prefeitura de Pacaraima, o município deve enviar índios que já têm documentação regular para um abrigo em Manaus que está com poucos moradores. Assim, o abrigo de Pacaraima voltará receber novos imigrantes.
“A questão da documentação deles [índios] está em andamento e vamos enviá-los para Manaus. Estamos correndo para fazer esse processo de interiorização para o Amazonas com celeridade”, informou a assessoria, acrescentando que o abrigo de Pacaraima ainda passa por ajustes e futuramente deve receber até 250 pessoas.
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Imigração em massa
O número de solicitações de refúgio de venezuelanos em Roraima chegou a marca dos 12.193 pedidos de janeiro a setembro de 2017. Com o aumento da crise econômica e política no país vizinho, este ano a procura já é quase cinco vezes maior que a soma de todos os pedidos feitos de 2014 a 2016.
Por outro lado, o governo do estado estima que 30 mil venezuelanos tenham entrado em Roraima desde 2016. A imigração cresce conforme a crise na Venezuela se alastra nos setores de emprego, alimentos e remédios.
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Conforme dados divulgados pela Polícia Federal em Roraima, a maioria dos venezuelanos que migram para o estado são de Caracas, capital do país. Mais de 58% são homens e jovens entre 22 e 25 anos. A maior parte deles são estudantes (17,93%), seguidos por economistas (7,83%), engenheiros (6,21%) e médicos (4,83%).
Nas filas para entrar no Brasil, no município de Pacaraima, os imigrantes relatam que deixam o país vizinho devido a fome e ao desemprego. Muitos deles sonham em recomeçar a vida no Brasil.
Nas ruas de Boa Vista muitos deles estão em busca de trabalho. Nos últimos sete meses o Ministério do Trabalho no estado (MTE-RR) registrou um recorde na emissão de carteiras de trabalho a imigrantes venezuelanos. Nesse período foram quase 3 mil carteiras entregues a cidadãos venezuelanos. Em 2015 foram emitidos apenas 257 documentos, já em 2016 esse número saltou para 1.331.