Abandonada e depredada, Estação Ferroviária de Goiânia será restaurada
Responsável pelo trabalho, o Iphan explicou que a obra está orçada em R$ 5,87 milhões e deve ser concluída até o fim de 2018. Local é considerado Patrimônio Cultural Nacional.
A situação de abandono e de depredação da Estação Ferroviária de Goiânia deve mudar em breve, pois o local será restaurado. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a prefeitura já assinaram a ordem serviço da obra que está orçada em R$ 5,87 milhões e deve ser concluída até o fim de 2018. Tombado pela entidade, o edifício compõe o acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco da capital.
“[ A estação] tem toda a pureza, todas as referências da linguagem do Art Decó na arquitetura. É um espaço nobre da cidade, tanto pela localização no traçado urbano, que tem um grande potencial de uso, quanto pela grande circulação de pessoas. A gente tem bastante otimismo que com a restauração possa trazer o público”, diz a coordenadora técnica do Iphanem Goiás, Beatriz Otto de Santana.
Inaugurada em 1950, a Estação Ferroviária operou até a década de 1980, recebendo trens de cargas e passageiros da Estrada de Ferro Goyaz. O prédio está localizado na Praça do Trabalhador, no Setor Central, e fica nas proximidades da Câmara Municipal e do Terminal Rodoviário de Goiânia. A região também se trata de um polo comercial que atrai clientes de todo o país, pois abriga a Feira Hippie, a Feira da Madrugada e as lojas da Rua 44.
A verba da restauração da Estação Ferroviária de Goiânia veio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas. O governo federal anunciou em 2013 a restauração do local, junto com a revitalização da Praça Cívica, mas a aprovação dos projetos referentes só ocorreu em maio de 2016 e, neste ano, houve a liberação da verba.
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Após a assinatura da ordem de serviço, o trabalho está na fase de detalhamento dos projetos complementares. Segundo o Iphan, responsável pela execução da obra, a área total do edifício é de 1,9 mil m², mas a intervenção ocorrerá em 29,1 mil m². A empresa que ganhou a licitação deve começar o trabalho de campo até o fim deste mês.
“Neste primeiro momento, as frentes de obra que serão executadas são o fechamento do local, a proteção do canteiro, a limpeza, higienização porque há fezes humanas e de pombos, além de animais mortos”, explicou Beatriz.
De acordo com a coordenadora do Iphan, algumas paredes da estação devem ser demolidas. Já a locomotiva será realocada para o fundo da estação, próximo de onde era a linha férrea. O projeto ainda inclui a revitalização do entorno do prédio, paisagismo e áreas de contemplação.
“O maior cuidado do ponto de vista técnico da restauração são os afrescos do Frei Confaloni, e a maria-fumaça. O edifício neste estado de degradação pela água da chuva, pois todas as calhas, os condutores de água pluvial não estavam funcionando adequadamente. O excesso de água e a falta de uso acabaram gerando todo o processo de degradação. Todos os esforços do Iphan são para que isso não ocorra novamente”, ressaltou Beatriz.
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Abandono e insegurança
Em busca de mostrar as belezas de Goiânia para a nova namorada, o agente de monitoramento Jeander Ferreira de Oliveira, de 23 anos, levou a auxiliar de açougue Márcia Lilian Vieira da Silva, que mora em Barra do Garças, em Mato Grosso, à estação. Ele ficou decepcionado com a depredação do local.
“Cheiro ruim, cheio de caras drogados, tudo pichado. Tinha que ser local para a gente passear”, lamenta o jovem.
Como a locomotiva ainda está mais preservada que o restante, eles optaram por registrar o momento com uma foto em frente ao trem. Mesmo assim, observam que a cabine está com travesseiros dentro, enferrujada e pichada. “O local é bonito de longe, chama a atenção, mas chega perto e desencanta um pouco”, disse Márcia.
Jeander Ferreira de Oliveira leva Márcia Lilian Vieira da Silva para conhecer a Estação Ferroviária, em Goiânia, Goiás (Foto: Paula Resende/ G1)
O historiador Renato Elias Marques, de 37 anos, concorda com o casal. Além de ser importante na história de Goiânia, ele ressalta que a estação é um dos cartões postais da cidade e deveria receber mais cuidados.
“Pessoas de todo o país vêm na região para fazer compras na Feira Hippie e na Rua 44. Muita gente também chega em Goiânia pela rodoviária e se depara com esse descaso. Como se diz, é a primeira impressão que fica”, opina.
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Vendedora de água e pipoca há quatro anos nos semáforos ao redor da estação, Marisa Camêlo Alves, de 43 anos, acredita que, se houvesse a revitalização, o local atrairia mais visitantes e ela até lucraria mais. A trabalhadora afirma que há policiamento na praça, mas os usuários de drogas sempre voltam quando os agentes saem.
“Está abandonado. Fico de olho nos colegas, se eles vão embora, eu vou também. Tenho medo de ficar sozinha aqui. Os usuários acham que eu tenho obrigação de dar as coisas pra eles, teve um que já até abriu a minha caixa”, conta a vendedora.
O G1 procurou a Polícia Militar para saber se alguma medida será tomada para reforçar o policiamento na região e aguarda retorno.
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