Bem-sucedidas e bem resolvidas, as mulheres de meia-idade quebram um tabu e assumem abertamente a relação com rapazes bem mais jovens
Mulher bonita, bem-sucedida, admirada, três filhos adultos, separada há quase um ano ao término de um casamento de mais de duas décadas, posta nas redes sociais fotos e legendas românticas do fim de semana na praia com o novo namorado. Detalhe: ela, a apresentadora Fátima Bernardes, tem 55 anos; ele, o advogado pernambucano Túlio Gadelha, tem 30. A diferença de idade acabou sendo tão comentada — até mais, talvez — quanto a revelação de que a fila andou para Fátima. Mas o fato de a apresentadora, no imaginário nacional uma espécie de encarnação da mulher discreta e bem-comportada, vir a público mostrar que, sim, namora um rapaz mais novo é prova do esgarçamento do tabu que sempre envolveu esse tipo de relacionamento. “Ainda não podemos dizer que seja fácil. Mas, cada vez que um casal desses aparece, funciona como modelo para quem tem receio de assumir a relação”, diz a antropóloga Mirian Goldenberg, autora do livro Por que os Homens Preferem as Mulheres Mais Velhas?.

O estigma da diferença de idade é claramente sexista — homens nunca foram afetados por ele. Pelo contrário: são até admirados pela conquista de garotas. No mesmo ano em que Macron, 39, e Brigitte, 64, entraram no Palácio do Eliseu, em Washington a Casa Branca era ocupada por Donald Trump, que, aos 70 anos, é 23 anos mais velho que Melania — e tudo bem (sem falar nos 33 anos que separam o casal que habita o Palácio do Jaburu). Agora, ao que tudo indica, elas enfim ensaiam uma reação para corrigir a injustiça sociológica. Segundo especialistas, na ponta dessa reviravolta de costumes está a mulher mais velha do século XXI, uma senhora muito bem conservada, bem informada e bem remunerada. “Elas estão cada vez mais independentes financeira e emocionalmente, com força para bancar as próprias decisões. Não têm a preocupação de encontrar um homem que as sustente e lhes dê segurança”, explica a antropóloga Mirian.
Só assim conseguem encarar os narizes torcidos que continuam a ver à sua volta, decorrentes da visão de que o meninão (toyboy, em inglês, ou garoto-brinquedo) que se relaciona com a mulher de meia-idade (cougar, outro termo pejorativo que faz referência à pantera de garras afiadas) só quer se aproveitar dela, e, quando resolver se casar, vai procurar uma moça mais nova. “Partimos do princípio de que todos os homens almejam ter o poder na relação, mas isso não é verdade”, diz a antropóloga americana Helen Fisher. “Eles querem uma companheira, uma parceira intelectual e sexual.” Assessora do site de relacionamento Match.com, Helen conduziu uma pesquisa no ano passado em que 26% das mulheres se declararam dispostas a namorar rapazes dez anos mais novos.
Os últimos números brasileiros, embora não sejam recentes, confirmam a tendência: a quantidade de casamentos de mulheres dez anos mais velhas que seus parceiros disparou 59% entre 1996 e 2006.
Os inúmeros exemplos atuais dão a impressão, um tanto exagerada, de que a exceção está virando padrão. Não é bem assim, embora pululem histórias de imensas distâncias de idade. Entre super-heróis, é praticamente obrigatório. Os fortões Chris Hemsworth (o Thor), 34 anos, e Jason Momoa (o Aquaman), 38 anos, são casados, respectivamente, com as atrizes Elsa Pataky, 41, e Lisa Bonet, 50. Hugh Jackman, 49 anos, o Wolverine, já completou duas décadas de união com Deborra-Lee Furness, 61. Aqui no Brasil, Tatá Werneck, 34 anos, está com Rafael Vitti, garotão de 22. O marido de Deborah Secco, Hugo Moura, é doze anos mais novo. Entre Luana Piovani e Pedro Scooby, a diferença é de onze. “Namorei outros homens mais novos, mas eram imaturos. O que faz diferença no meu relacionamento com o Pedro é a capacidade dele de cuidar dos filhos, da família. Se isso está em dia, o resto pode ser equilibrado”, diz Luana. E viva o tão falado empoderamento, indicador inequívoco de que vivemos tempos de admiráveis mudanças de comportamento.
Por Maria Clara Vieira/Veja