Latest Posts

- Advertisement -
Click News

Latest Tweets

DestaqueSaúde

Melatonina não é remédio para dormir nem suplemento, mas é essencial para o sono; veja 6 pontos sobre o hormônio

A melatonina só deve ser usada com indicação médica
Foto: jcomp no Freepik

 

Venda da melatonina em farmácias foi autorizada em 2021 pela Anvisa. No entanto, especialistas alertam que, por ser tratar de um hormônio, substância só deve ser usada com indicação e acompanhamento.

Você já ouviu alguém falar que toma melatonina para dormir? Por vezes, ela é vista como um remédio, mas a melatonina é, na verdade, um hormônio produzido pelo nosso próprio organismo. Em algumas situações, o que ocorre é a suplementação desse hormônio. Mas atenção: ela só deve ser tomada com orientação médica.

Outro erro quando o assunto é melatonina é classificá-la como hormônio do sono. Amelatonina é o hormônio que prepara o nosso corpo para dormir. Essa produção é sempre noturna. Por isso, ela pode ser considerada um hormônio da escuridão.

“A melatonina só é produzida na ausência de estímulo luminoso. Ela informa o nosso corpo de que é noite e que o processo de dormir pode ser iniciado”, diz Sandra Doria, pesquisadora do Instituto do Sono.

José Cipolla Neto, professor de fisiologia no Instituto de Ciências Biomédicas da USP e pesquisador sobre os efeitos fisiológicos e mecanismos de ação da melatonina, explica que a substância é responsável por todas as mudanças no nosso corpo para o período de repouso.

“Ela sinaliza para o nosso sistema nervoso, portanto, o nosso organismo como um todo, que acabou o dia e começou a noite. Ou seja, ela é a grande responsável por todas as mudanças fisiológicas do nosso organismo para o período diário de repouso – sono, mudanças metabólicas, cardiovasculares, respiratórias, digestoras, endócrinas e imunológicas, todas elas típicas do repouso humano”.

A melatonina teve a comercialização liberada no Brasil em 2021 pela Anvisa. Ou seja, a substância pode ser encontrada em farmácias e ser vendida sem a necessidade de prescrição médica. De acordo com a Anvisa, ela está liberada para pessoas com idade igual ou maior que 19 anos e para o consumo máximo diário de 0,21 mg.

Especialistas reforçam que, mesmo com a venda liberada no país, a melatonina só deve ser usada com indicação médica.

1 – O que é a melatonina e como ela é produzida?

A melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal, uma estrutura que fica bem no centro do cérebro. A escuridão faz com que essa glândula comece a produzir melatonina, enquanto a luz faz com que essa produção pare.

O papel da melatonina é sinalizar para os órgãos humanos que a noite chegou e preparar o organismo para adormecer. Ela é a grande responsável por todas as mudanças fisiológicas do nosso corpo para o período diário de repouso – sono, mudanças metabólicas, cardiovasculares, respiratórias, digestoras, endócrinas e imunológicas.

A produção de melatonina é interrompida ao raiar do dia. Isso prepara o corpo para despertar e se preparar para atividades diárias. Enquanto a melatonina é produzida normalmente, ela garante um sono saudável.

O pico máximo de produção ocorre em torno das 2h, 3h da madrugada, variando de pessoa para pessoa.

A melatonina criada dentro do corpo é conhecida como melatonina endógena, mas o hormônio também pode ser produzido externamente. A melatonina exógena é normalmente produzida sinteticamente em laboratório e vendida como comprimido, cápsula.

Alguns fatores podem interferir e até bloquear a produção da melatonina: a luz (principalmente a azul, proveniente dos celulares, tablets e televisão), remédios e a idade, pois a produção de melatonina cai com o passar dos anos.

Melatonina é a grande responsável por todas as mudanças fisiológicas do nosso organismo para o período diário de repouso — Foto: TV Globo

Melatonina é a grande responsável por todas as mudanças fisiológicas do nosso organismo para o período diário de repouso — Foto: TV Globo

2 – Para quem a melatonina é indicada?

Estudos já apontaram que a melatonina pode melhorar o sono em certos casos, mas seu uso deve ser feito apenas com recomendação de um especialista. “Não se deve tomar melatonina a não ser que seja preciso. Além disso, a dosagem, formulação, horário da administração, tudo deve ser rigorosamente controlado”, alerta Cipolla.

“Sabemos hoje que jovens produzem mais melatonina e que com o passar da idade existe uma redução de produção. Também sabemos que betabloqueadores reduzem a produção de melatonina, que diabéticos e pessoas com obesidade também produzem menos”, complementa Marcio Mancini, vice-presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Segundo Dalva Poyares, médica especialista em Medicina do Sono, a melatonina é indicada em algumas situações restritas: alguns pacientes com transtorno do espectro autista (TEA), pacientes com deficiência visual (ajuda a sincronizar o ritmo do sono-vigilía) e pacientes com distúrbio de ritmo circadiano (quando a liberação do hormônio ocorre fora do ritmo normal).

🥱 E para a insônia? Poyares explica que a melatonina pode ajudar a iniciar o sono, mas não é uma substância aprovada e indicada para a INSÔNIA.

3 – A melatonina é um suplemento alimentar?

Os especialistas ouvidos pelo g1 explicam que, apesar de a melatonina ter sido aprovada pela Anvisa como suplemento alimentar, ela é um NEUROHORMÔNIO e deve ser indicada de maneira racional.

“Não é porque ela pode ser encontrada em outros organismos vivos, como animais e plantas que a torna, para o ser humano, um ‘suplemente alimentar’. No organismo humano, seja a produzida endogenamente, seja a ingerida terapeuticamente, ela funcionará como um hormônio, com funções complexas e que devem ser rigorosamente controladas“, reforça Cipolla.

“Apesar de ser vendida e estar nessa categoria, ela é um hormônio. Não é comum um hormônio ser considerado suplemento alimentar. Suplemento alimentar entra no gênero de aminoácidos, proteínas, vitaminas, sais minerais”, completa Poyares.

Enquanto a melatonina é produzida normalmente, ela garante um sono saudável — Foto: Canva

Enquanto a melatonina é produzida normalmente, ela garante um sono saudável — Foto: Canva

4 – Como estimular a melatonina do próprio organismo?

  • Expor-se a luz durante o dia (solar, de preferência)
  • Diminuir a intensidade da luz à noite (para ajudar na produção do hormônio)
  • Evitar computador, celulares e tabletes duas horas antes de dormir

5 – Quais os riscos de tomar melatonina sem prescrição? E em excesso?

A melatonina em excesso pode quebrar a ciclicidade que existe nas 24 horas do dia. “Se eu tomar uma dose supra-fisiológica (elevada), essa dose pode prejudicar a queda natural de melatonina que ocorre pela manhã”, ressalta Poyares.

Em altas doses e tomada sem orientação, a melatonina pode causar efeitos indesejáveis, como sonolência durante o dia, tontura, dor de cabeça, náuseas. Também pode provocar pesadelos, fadiga, falta de concentração.

“Nosso organismo tem muitos mecanismos que fazem com que a melatonina deixe de ser produzida e circule no nosso sangue assim que amanhece. Quando se toma uma melatonina farmacológica, a dosagem deve ser estudada para cada paciente de tal forma que o paciente, tomando-a de noite, antes de dormir, ao acordar não tenha mais nenhuma melatonina circulante. Não pode haver escape de melatonina circulante durante a manhã”, alerta Cipolla.

6 – Criança pode tomar melatonina?

Sim, mas somente em condições clínicas que indiquem a melatonina como tratamento e somente com orientação médica, alerta Cipolla.

No ano passado, a Academia Americana do Sono (AASM, na sigla em inglês) emitiu novas recomendações sobre a melatonina, pedindo que os pais evitem a administração do hormônio sem a indicação de um profissional.

Entre as medidas para ajudar na hora de dormir, a AASM sugere bons hábitos de sono, como:

  • Ter um horário regular para dormir e acordar
  • Ter uma rotina de dormir
  • Limitar o tempo de tela à medida que a hora de dormir se aproxima

“Embora a melatonina possa ser útil no tratamento de certos distúrbios do sono-vigília, como o jet lag, há muito menos evidências de que pode ajudar crianças ou adultos saudáveis a adormecer mais rápido”, disse o pneumologista e especialista em medicina do sono e cuidados intensivos M. Adeel Rishi.

No Brasil, a Anvisa indica a melatonina para pessoas com idade igual ou maior que 19 anos. “Pessoas com enfermidades ou que usem medicamentos deverão consultar seu médico antes de consumir a substância”, diz a agência.

Por Mariana Garcia, g1

Deixe um comentário