Latest Posts

- Advertisement -
Click News

Latest Tweets

ComportamentoGeral

É PAQUERA OU É ASSÉDIO, AFINAL?

Catherine Deneuve e mais um grupo de mulheres publicou um artigo no jornal Le Monde. Nele, elas defendem a liberdade dos homens importunarem as mulheres.
“O estupro é um crime. Mas a paquera insistente ou desajeitada não é delito, nem é o galanteio uma agressão machista.”
Essas mulheres vêm defender esses homens, coitados, pobres acuados com o movimento “Time’s Up” (acabou o tempo) que estimula denúncias de assédios.
Quer saber? Está mais do que na hora de botar a boca no mundo mesmo. De denunciar pessoas agressoras, sejam elas do gênero que forem.
Chega de sofrer em silêncio. Escondidas. Amuadas. Envergonhadas. Com medo de perder empregos. De ser prejudicadas. Está na hora de lutarmos juntas. Umas pelas outras. Porque homens já fazem isso há séculos. Eles avançam e a gente só se encolhe.
Então cantada não pode mais? É essa a ideia? Não. Existe uma diferença entre receber uma boa cantada e ser importunada. São coisas bem distintas.
– Seus olhos são lindos.
Essa é velha. Batida. Mas pode ser um bom começo. Eu hoje, casada, sem querer me meter em confusão, respondo logo na lata:
– Meu marido também acha.
E encerro o assunto. Mas me ofende? Não. Me agride? Também não. Me deixa mais felizinha de saber que ainda desperto interesses? Se sim, então foi cantada. Se não, então foi assédio. Para mim, a diferença entre a cantada e o assédio é o efeito que produzem em você. Se for bom, é cantada. Se for nojento, agressivo, invasivo, inapropriado, é assédio.
– Desculpe. É que ele não resiste a uma gata.
Disse o dono do cachorro que latiu ao me ver passar. Eu adorei. Décadas se passaram, mas essa cantada eu nunca esqueci. Ele só passou. Continuou seu caminho. Não me pediu telefone. Nada. Uma pena. Acho que eu até teria dado.
A boa paquera. Dela sinto falta. Um elogio bem colocado. Um olhar interessado, porém sem ser nojento. Um cruzar de olhos que arrepia. Ai a paquera. A boa paquera tem seu lugar, sim. Sempre terá. É o início de uma aproximação.
A boa cantada tem seu lugar. Ela é leve. Gostosa. Sedutora ou divertida. Ela dá vontade de parar. De conhecer. De escutar mais. A boa cantada não faz a gente se encolher com medo. Apertar o passo com receio do que virá depois. Ou sentir nojo pelo que escutou.
Você pode não gostar? Amanheceu de ovo virado e não quer saber de gracinha? Pode. Mas ela não causa estrago. Não há uso de força. Não há ameaça. Só sair andando. Pronto.
O assédio, não. Ele é agressivo. Ou dissimulado. Baseado em algum tipo de poder. Força física, econômica ou hierárquica. O assédio é aquele que faz a gente pensar se sorri por educação, disfarça e se afasta para não causar mal estar no ambiente. Ou se manda logo para algum lugar específico.
A meu ver, essa é a grande diferença. O assédio nubla. Fecha o tempo interno da gente. A cantada pode não fazer nada, se for sem graça. Se a gente não estiver interessada na criatura. Mas mal não chega a fazer.
O assédio causa incômodo. Raiva. Nojo. Vontade de sumir. Sair dali correndo. Vergonha alheia. As mulheres estão de saco cheio de serem assediadas. Encurraladas. Perseguidas. Caçadas como animais.
Andar com medo cansa. Não saber se vai chegar em segurança desgasta. Ouvir palavras escrachadas enoja. É isso que a gente não quer mais. É disso que a gente quer se livrar. Basta de ser olhada como carne no açougue. Como objeto à venda em vitrine. A gente não está à venda.
Não, você não tem o direito de falar tudo o que quiser só porque passou do meu lado na rua. A não ser que isso me dê também o direito de te tacar a mão na cara. Porque sua reação me agride. Me violenta. Me faz mal.
Não temos ódio aos homens. De jeito nenhum. Não! Não é contra os homens. Homens ótimos são ótimos e bem-vindos.
Temos ódio, sim, de agressores. De abusadores. De estupradores. Dos que acham que meu corpo pode ser tocado sem o meu consentimento.
Que já chegam passando a mão. Dos que me ofendem com suas gracinhas sem graça. Tenho o santo direito a estar na rua sem ser incomodada. Sem ser abordada de forma inapropriada.
Só a luta traz mudança e conquista. É preciso lutar. Juntas. Não contra os homens. Mas a favor da gente. Homens são importantes parceiros. Excelentes aliados. Parceiros maravilhosos. Podem ser amados, aproveitados, incorporados à vida diária. Por que não?
Homens bons nos interessam,sim. Aliás não só homens. Pessoas do bem, gentis, com noção do que é respeito ao outro, que saibam respeitar limites, essas nos interessam. Sempre!
Mônica é carioca, professora e psicóloga clínica. Especialista em atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias.
Por: Mônica Raouf El Bayeh/Extra

Deixe um comentário