Dentro das solenidades da Quinzena Bernardo Élis, que acontece entre 15 e 30 de novembro, o escritor Bariani Ortencio (97 anos, 52 livros), recebeu o Troféu Seriema 2020, conferido pelo Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis Para os Povos do Cerrado (ICEBE). A honraria é a mais alta comenda dessa instituição, a ser entregue anualmente a personalidades de destaque da Cultura em Goiás e foi idealizado e desenhado pela escritora Maria Carmelita Fleury Curado, viúva de Bernardo Élis. Bariani Ortencio foi o primeiro contemplado.
A solenidade aconteceu no dia 21 de novembro de 2020, na sede do Instituto Cultural Bariani Ortencio (ICEBO), que funciona anexo à residência do homenageado, e coordenada – à falta do presidente do ICEBE, Bento Fleury, ausente por motivos humanitários – pelo vice-presidente Nilson Jaime.
Estiveram presentes os intelectuais e escritores Geraldo Coelho Vaz, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG); Ubirajara Galli, presidente da Academia Goiana de Letras (AGL); Aidenor Ayres, presidente da Academia Goianiense de Letras (AGnL); Ademir Luiz da Silva, presidente da União Brasileira de Escritores, seção de Goiás (UBE-Goiás); Valterli Leite Guedes, presidente da Associação Goiana de Imprensa (AGI); Isabel Signorelli, presidente da Comissão Goiana de Folclore (CGF); Elisabeth Caldeira Brito, diretora da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Aflag); jornalista Adão Divino Batista, ex-presidente da Academia Palmeirense de Letras, Artes, Música e Ciências (Aplamc); Rosy Cardoso, da Aflag e Icebe; Magda Régia, presidente da Academia de Letras e Artes de Anicuns (ALAA); o fotógrafo cultural Nelson Santos (Icebe); o diretor do Icebo, Gilberto Selva; a assessora da AGI, Rejane Pessoa e as filhas do homenageado.
Impedidos de comparecer – devido à pandemia, e em respeito à idade avançada do homenageado, a pedido da organização do evento – dezenas de pessoas deram o seu abraço virtual em Bariani Ortencio, através de uma Live, dentre elas a presidente da Aflag, Elisabeth Fleury Teixeira; o cineasta Edson Luiz de Almeida, diretor de um documentário sobre a trajetória literária do homenageado; os professores Eguimar Felício (UFG), Ricardo Assis (UEG) e Sandro Dutra (Uni-Evangélica e UEG), membros do ICEBE, que saudaram o homenageado em nome todos.
O escritor Nilson Jaime leu um texto em homenagem a Bariani Ortencio, publicado originalmente no Jornal Opção, que transcrevemos na íntegra. O homenageado, visivelmente emocionado, sensibilizou a todos com as suas palavras, dizendo-se amigo de Bernardo Elis, patrono da instituição que agora o homenageia, por toda a vida. Salve Bariani Ortencio.
O paulistinha mais goiano do Brasil vai receber o Troféu Seriema 2020
Por Nilson Jaime, D.Sc.
O menino Valdomiro só não nasceu mineiro por mó de o Rio Grande.
É que a pequenina Igarapava, pertencente à Região Metropolitana de Franca, na Mesorregião de Ribeirão Preto, fica na divisa hidrográfica de São Paulo com Minas, no lado mais rico da Federação.
Na bucólica cidadezinha, em 24 de Julho de 1923, nascia Valdomiro Bariani Ortencio (lembro ao corretor de texto que é Ortencio, sem acento grave no “e”).
Ali, entre uma bobagem e outra, “Badu”, menino de nove para dez anos, assuntava o passar da soldadama, jagunços, puxa-sacos e inocentes úteis durante a fratricida Revolução Constitucionalista de 1932.
No ano de 2005, o experimentado escritor Bariani Ortencio registraria sua vida de menino no livro “A Fronteira – Revolução Constitucionalista de São Paulo, 1932” (327 páginas), vencedor do 27° prêmio Clio de História 2004, da Academia Paulistana de História.
Nesse interregno de mais de 70 anos, Bariani Ortencio mudou-se para Campinas, quando Goiânia tinha apenas cinco anos; escreveu 52 livros, dos quais publicou 44; fundou o Bazar Paulistinha, de vendas de discos e instrumentos musicais; compôs mais de 50 músicas, grande parte gravada por Lindomar Castilho e Júlia Franco; apadrinhou dezenas de escritores; brigou e desbrigou com o amigo, compadre e companheiro de viagem e de literatura, Bernardo Élis; fez muita propaganda da cachaça Vale do Cedro, que degusta socialmente, nunca se esquecendo de derramar ao solo a porção do Santo; escreveu o “Dicionário do Brasil Central – subsídios à filologia” (Editora Ática, 1983. 472 p.) que considero uma grande obra; enveredou-se pelos sertões e veredas da gastronomia, legando-nos o épico “Cozinha Goiana”, com ene edições esgotadas; é plenipotenciário participante da Academia Goiana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico e das mais relevantes academias de Letras do interior, sendo o “eterno tesoureiro das instituições sem dinheiro”.
Cronista, historiador, ficcionista, gastrônomo, compositor e folclorista, Bariani Ortencio, na experiência de seus 97 anos, é o mais generoso e profícuo mecenas de Goiás. Ajuda a todos que o procuram!
Gosto de visitá-lo em sua casa-biblioteca , no Instituto que leva o seu nome. Aprender com ele as crendices e costumes do homem cerratense.
Bariani supriu-nos a falta de Carmo Bernardes. É o nosso Câmara Cascudo.
Gosto de sua determinação e disciplina para com a escrita. Aprendo com sua cultura polímata.
Aprecio sua alma boa e invejo sua língua afiada, que fala verdades indizíveis. Admiro seu coração maiúsculo. Apraz-me sua imensa biblioteca da cultura aquém Tordesilhas.
Gosto da forma como me cobra os livros emprestados, toda vez que me vê, citando o adágio de que, “em empréstimo de livros, só tem dois bobos: o que empresta e o que devolve”…
Devolvo-lhe a pilhéria, afirmando que só ele e Paulo Coelho ficaram ricos com a Literatura. Bariani meneia a cabeça e sorri seu riso assônico.
No dia 21 de novembro próximo, sábado, às 9 horas, o Instituto Bernardo Élis (Icebe) vai homenagear esse notável escritor, amável amigo e grande homem da Cultura, em um Colóquio Virtual (Live).
Bariani Ortencio receberá o Troféu Seriema 2020, primeiro de uma série, desenhado pela artista plástica Maria Carmelita Fleury Curado, viúva de Bernardo Élis e membro do Icebe, cadeira n° 1 – a ser entregue anualmente a uma personalidade da Cultura goiana pelo conjunto da obra.
Vamos participar e homenagear esse grande goiano nascido em São Paulo.
Será uma oportunidade singular de reconhecer, em vida, os méritos de um grande amigo da Cultura.