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Leitura Dinâmica

A Partida

Por José Achilles Tenuta *
O ato de partir não é justo. Normalmente dizemos com a maior naturalidade que “fulano” partiu, ou morreu. Não é justo. Só o coração e a mente é que dão a devida dimensão às essas palavras. Deveria existir alguém em todas as famílias que durante a vida, fosse traçando um perfil de cada um per si, para disseminar aos que ficarem, todas as atividades daquele que partiu. É uma questão de justiça. Não igual aos candidatos que aparecem na televisão com cara de “invertidos” informando atabalhoadamente que foram ex disso e daquilo… Ridículo. Parece-me que no interior, o falecimento de alguém é mais significativo, diferente da capital. É quase um evento Social. Algumas lojas fecham ou deixam em meia porta, os sinos da igreja tocam e anunciam a partida de alguém. Parece qeu até os cachorros param de latir. As solenidades nos templos é de conformidade com o doador retirante. Quanto maior as doações em vida, maior as solenidades programadas para a partida. As fofoqueiras varredoras das calçadas de suas casas param para se lamentar e ou contar uma passagem do “retirante”, “parente de quem? filho de quem? Coitado. Tão novo, né? Já estava velho,né? Esse aproveitou bem a vida”. etc. Alguns ex-amores choram… Outros engolem a seco… A verdade nunca será definida… A pessoa nasce, passa décadas e décadas nesta terra, realizando todo tipo de proezas e simplesmente dizemos que ela morreu? Não deveria ser assim. Todos nós e cada um de nós individualmente temos a nossa história. Quer pelo bem ou pelo mal, realizamos atos e fatos que de alguma forma interferiu na vida de alguma outra pessoa individualmente. Não bastam as saudades e a dor no coração, ou não. É preciso discernir o que valeu ou não na existência de cada um. O que gostava ou não, o que amava ou não, o que fazia ou deixou de fazer, suas idéias, suas convicções, seus atos e fatos, que de alguma forma definiram a sua vida. Não me venham com julgamento final. Isso é “papo para boi dormir”. O ser humano nasce, cresce, cria família, interfere diretamente na vida de algumas pessoas e simplesmente dizemos que ela foi embora? Que ela partiu? Que ela morreu? Não é justo. Merecem um mínimo de reflexão… Nas capitais os velórios, via de regra, são os melhores locais para um desfile de modas e ou de vaidades e também para se renovar o estoque de piadas, entre um cafezinho amigo (alguns com pão de queijo ou quitutes – no interior é pinga mesmo). Fico torcendo para o falecido voltar à noite para beliscar os pés dos incautos. Pena que isso não ocorra. As coroas de flores que chegam, nada mais são do que atos de descargas de consciência de algum presidente de entidade que não quer se envolver e simplesmente as mandam, como que cumprindo seu papel ou obrigação. . Alguns nem se lembram que essa mesma pessoa foi responsável pelo seu sucesso nos negócios ou na sociedade. Fazem-se de bobos… A frieza da morte existente hoje, não condiz com os sentimentos aflorados no passado, quando a partida era realmente sentida. Hoje, discutimos os negócios, as viagens, o carnaval etc e tal… Hoje, por culpa dos governos, incompetentes e corruptos, há a banalização da vida, onde a bandidagem impera, nos prendendo dentro de nossas próprias casas, nos impedindo até mesmo de despedir de um ente querido (sem contar com a bandidagem dos estacionamentos). Aqui, por exemplo, os Estabelecimentos Comerciais (leia-se Cemitérios), não permitem velórios à partir das 20 horas… Fecham o Cemitério nesse horário. O defunto passa a noite sozinho. Não vai a lugar nenhum, mesmo… E o que tinham que faturar, já faturaram durante o dia… Está tudo pago mesmo… Só deixam de faturar os donos do Estacionamento e da Cantina do Cemitério. Um sentimento frio assola nossos corações e nos lança para frente sem meditarmos sobre as consequências ou resultados de uma partida. Nada como ficarmos livres desse compromisso para partirmos para o seguinte, qualificando como estorvo ou desculpa para um atraso ou perda de contato e ou compromisso anteriormente firmado (eu tinha que ir nesse evento…). Morreu? Pô, ele amava o Carnaval. Que pena, né? Podia ter escolhido uma data melhor… Quem mandou? Mas, me conta, e o seu Carnaval? Onde vais ser? E é vida que segue…
 
PS. Em homenagem ao meu querido Tio Renato, que nos deixou hoje, para as devidas reflexões das pessoas que ele sempre procurou ajudar, e conseguiu.

José Achilles Tenuta é Jornalista e Escritor

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